Lilith - A Donzela Negra

Lilith como Deusa da Lua Negra carrega a projeção da sombra do patriarcado da mulher desafiante como sedutora e, até mesmo, assassina de crianças. Ela é a encarnação do medo dos homens do feminino como algo sombrio e maligno.
Podemos encontrar narrativas sobre Lilith no Zôhar (o Sol mandou a Lua descer para acompanhar os passos da humanidade como sua sombra), em diversos lugares do antigo Oriente Médio, assim como tem aparições nas mitologias sumeriana, babilônica, assíria, hebraica e árabe.
A lenda mais conhecida é a que se refere a ela como a primeira esposa de Adão no Jardim do Éden, mas também é a amante dos espíritos lascivos no Mar Vermelho, a noiva de Samuel, o Diabo, a Rainha de Sabá e Zemargad e, ainda, como A CONSORTE DO PRÓPRIO DEUS CABALISTA do século XV.
Nos últimos cinco milênios (em que a Deusa se recolheu), Lilith, na condição de Deusa Negra foi banida das fronteiras da comunidade, negada e rejeitada, Lilith foi associada a uma Serpente Tortuosa, Sanguessuga, Prostituta, Fêmea Impura, Mulher Estrangeira, Bruxa, Megera e Feiticeira.
E ao longo dos tempos, fragmentos de sua história vieram à superfície (…)
***artigo incompleto
A Deusa Negra como a Sombra Feminina no Mundo Moderno
A Deusa Negra, como terceira fase da antiga Deusa Tríplice, representa muitos dos aspectos rejeitados da trindade da inteireza feminina.
Os ensinamentos da Deusa Negra da Lua Escura são sobre divinação, magia, cura, sexualidade sagrada, dimensões não físicas do ser e sobre os mistérios do nascimento, da morte e da regeneração. De modo similar, esses ensinamentos da lua negra, agora chamados de pseudociência, tem sido rejeitados como áreas legítimas de pesquisa pelas regiões modernas e instituições educacionais.
É fato: o feminino sombrio e seus ensinamentos de lua escura foram banidos do dogma aceito pela sociedade patriarcal.
Essa rejeição se assemelha ao desenvolvimento psicológico da sombra em indivíduos e na sociedade. A negação de um aspecto do todo é o ingrediente chave na formação da sombra.
A sombra, de acordo com a psicologia junguiana, é a parte escura e rejeitada da psique. Ela consiste em todas as qualidades que nós, por sermos influenciados pelos valores da nossa cultura, não sentimos como desejáveis ou aceitáveis para serem expressas como parte de nossa personalidade.
A sombra aparece como aquilo que não gostamos em nós, o que achamos ameaçador, vergonhoso e inadequado, assim como certas qualidades positivas e valorizadas que somos pressionados a reprimir e repudiar.
A sombra é também a mensagem subliminar do inconsciente que, por meio de sonhos e imagens, revelam os mecanismos do nosso ser interior que opera sob o patamar da mente consciente.

A sociedade patriarcal: um condicionamento cultural
Por meio do condicionamento cultural, todos nós herdamos essas imagens negativas e e falsas do aspecto negro do feminino.
O tipo de mulher que é uma ameaça à cultura patriarcal é temida, ridicularizada e rejeitada por ser dissimulada, manipulativa, ciumenta, gananciosa, controladora, exigente, imoral e vingativa.
Do ponto de vista arquetípico aqui estão representadas pela: Rainha Megera, a Filha Proscrita, a Mulher Perdida, a Mãe Terrível, a Bruxa malvada, a Rainha Má…
Sempre que aspectos da nossa totalidade não são expressos e aceitos, pelo contrário, são negados e rejeitados, eles se tornam distorcidos. Quando a sombra é confinada nos reinos escuros do nosso inconsciente, ela se torna limitada, distorcida e deformada. Conforme ela se deteriora, subprodutos tóxicos são liberados em nosso corpo e nossa mente . Esses venenos contorcem nossos traços físicos e obscurecem as lentes mentais através das quais nós percebemos o mundo.
Nossa visão de nós mesmos, dos outros e do mundo é colorida por esses venenos em nossos modos de pensar, que são gerados pelo aspectos rejeitados de nós mesmos.
A Deusa Negra foi conceitualizada como maléfica e seus ensinamentos quanto à escuridão, ao sexo e à morte foram distorcidos.
E esses aspectos distorcidos do feminino sombrio vivem dentro de cada um de nós, HOMENS E MULHERES, como padrões de pensamentos negativos em nossa mente. Eles tomam a forma de nossos demônios pessoais, que os psicólogos chamam de nossas neuroses, nossos complexos, obsessões e compulsões. Nossos demônios internos tanto masculinos quanto femininos crescem em um ambiente de egoísmo, culpa, vergonha, censura e julgamento. Eles enchem nossos ouvidos com promessas sussurradas de fracasso, abandono, falta de merecimento e rejeição. E eles nos guardam zelosamente de expor nossos segredos vergonhosos, que nos rodeiam como vícios, disfunções, imperfeições, violência, incesto, abuso e estupro.
A sombra parece prosperar e adquirir força enquanto está no exílio = no momento em que a deusa/a energia feminina/a lua “sai de cena”, se recolhe para “morrer para renascer”.
Ela age de modos subversivos para dominar nossa prosperidade. Em nossas horas mais vulneráveis de exaustão ou estresse extremo, a sombra pode repentinamente irromper do nosso inconsciente com inventividade e fúria. Quando nosso demônios internos são ativados, eles explodem como raiva, ódio, ciúme e ganância e nos fazem agir de forma violenta, autodestrutiva e obsessiva, minando nossos esforços positivos e causando estragos em nossa vida.
Como perceber a Deusa atuando como sombra em nossas vidas?
Quando o nosso inconsciente não pode mais conter a raiva latente e o ressentimento sobre tudo o que nós negamos, desvalorizamos e repudiamos, o nosso “eu consciente” perde o controle e, embora possamos ficar chocados e horrorizados com o que emerge do nosso interior, também nos sentimos impotentes para deter o nosso comportamento.
Podemos reconhecer a sombra feminina quando ela se volta contra indivíduos e uma cultura que oprimem certos aspectos da totalidade feminina:
- ela se volta contra quando ama demais – compulsão e vício;
- ela se volta contra quando se sente desprezada;
- ela se volta contra quando se sente traída;
- ela se volta contra quando é trocada por outra: o(a) ex que é um(a) louco(a).
- no comportamento histérico associado à energia da fase pré-menstrual (a fase negra da lua é associada ao período de menstruação da mulher);
- no comportamento inerte da não ação/aceitação de uma condição/condição eterna de ser queixosa;
- no comportamento nunca satisfeito associado à energia da fase de menopausa;
- no comportamento de manipulador ou incontrolado da energia sexual.
Como perceber a Deusa atuando como sombra em nossas relações afetivas?
Embora possamos NEGAR os aspectos sombra de nosso ser, é impossível renegar por completo esse material, porque ele é empurrado para baixo em um lugar que vai inevitavelmente emergir em outro.
A sombra não vive apenas dentro de nós, na forma de nossos demônios pessoais, como também tem uma vida aparentemente independente fora de nós.
Quando a sombra não é trazida à luz, nós vamos projetá-la nos outros, enfraquecendo, desse modo, nossa capacidade de formar relacionamentos seguros e honestos.
Nós percebemos o mundo externo através do filtro interno das nossas emoções e dos nossos pensamentos negativos.
- quando nossa mente está cheia de ódio, nós vemos os outros como a personificação do que é mais assustador e detestável para nós.
- quando os poderes mágicos, sexuais e regenerativos da Deusa Negra são rejeitados, deturpados e distorcidos, eles são projetados como as forças demoníacas do mal. A escuridão tornou-se personificada como a Deusa Negra, que era possuída por um ódio furioso e destrutivo tentando reivindicar seu direito.
Esses aspectos rejeitados de nós mesmas assumem a forma de mal e tentação em nosso mundo externo. Eles se tornam todos abusadores, estupradores, terroristas, impostores e destruidores, porque por meio do nosso estado emocional atraímos esses tipos de pessoas e situações para nós.
Além disso, também evocamos e catalisamos essas qualidades negativas nos outros, que são, na verdade, os reflexos do nosso próprio eu inconsciente negado. Nossa sombra, então, se torna tudo o que ameaça a nossa segurança e nossa proteção.
É importante compreender que o conteúdo da sombra é quase sempre inconsciente, e que o raciocínio intelectual ou as boas intenções não vão resolver o problema das partes desagradáveis de nossa personalidade e da sociedade. É necessário que nos tornemos conscientes de nossos aspectos negros para nos aceitarmos e aos outros, e esse esforço requer comprometimento com o trabalho interno.
Quando permitimos que alguma inferioridade se expresse em nossa personalidade, a sombra será mais equilibrada com o eu consciente. Entretanto, quando somos extremamente corretos e rígidos, a sombra se tornará exagerada e destrutiva.
Da mesma forma, quanto mais limitante e restritiva for a sociedade na qual vivemos, maior será a sombra coletiva. As forças malignas do inconsciente escuro tomarão proporções enormes e assustadoras, das quais devemos nos defender banindo e proibindo sua existência.
Quais ensinamentos da Deusa tem sido temidos pela cultura patriarcal? E de que maneira eles forma sucessivamente demonizados como a sombra?
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A cura da escuridão
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O segredo da Deusa Negra
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