A Árvore
Qual era a Árvore da qual Adão e Eva comeram no Jardim do Éden?
Qual foi o pecado de Adão e Eva?
O Zôhar diz que, na verdade, eles comeram foi o trigo e, não, a maçã. A própria tradução da palavra trigo explica isso. De fato, podemos entender que foi o trigo porque, apesar dele ter a parte que é boa, existe o joio, que é a parte que jogamos fora, ou seja, há uma parte aproveitável e uma parte não aproveitável. Então, não é que a presença divina está presente no pecado e, sim, que no trigo existem os dois pedaços. Quando Adão e Eva comeram dessa Árvore eles fizeram uma mistura das coisas, por isso que a Árvore se chama conhecimento do bem e do mal. Esse lado negativo, que seria o joio do trigo (pela Kabbalah esse lado negativo tem uma versão masculina e feminina); então na visão do Zôhar o ato de Adão e Eva mistura domínios (a santidade com o outro lado, joio com trigo, masculino e feminino) e esse foi o pecado de Adão e Eva.
Após comerem da Árvore do conhecimento do bem e do mal, Adão e Eva começam a ter uma visão holística do mundo, a enxergar bem e mal, porém numa visão confusa. O Zôhar diz que foi o que fez com que a humanidade caísse e que enxergássemos bem e mal, porém à semelhança de Adão e Eva, nos confundimos na definição de limites de bem e mal: achamos que uma coisa é santidade e não é, a gente acha que uma coisa é joio e, na verdade é trigo e vice versa.
O problema não é ter a visão holística, o problema é ter uma visão confusa. Acaba que temos que voltar a esse estado de Éden; continuar vendo o bem e o mal, foi um ganho que Adão e Eva tiveram, porém sabendo dar nome aos bois.
Do ponto de vista cabalístico, saímos do Éden quando confundimos as bolas. Quando não sabemos o que é joio e trigo, já quando sabemos fazer a separação, ganhamos, inclusive uma percepção de vida que nos retoma ao jardim do Éden.
Cobra e Eva
O que a cobra fez com a Eva no Jardim do Éden foi ruim ou foi bom?
A cobra tentou a Eva a comer o fruto proibido da Árvore. O Zôhar diz que não foi exatamente uma tentação, na verdade, a cobra (em hebraico a cobra é masculino, então seria “o cobra”) teve relações sexuais com a Eva e instilou na Eva uma impureza (que também representa a má inclinação, a luxúria, o desejo sexual), foi nesse momento que a mulher recebeu pela primeira vez, e depois passa para o homem a má inclinação.
Mas isso foi bom ou ruim?
No primeiro momento sim, mas o Zôhar explica que por conta disso a mulher vai ter relações sexuais com o homem ( gerando Caim, Abel..) e graças a isso estamos aqui; então temos que agradecer o que a serpente fez porque, do contrário, não existiriam gerações no mundo e o primeiro mandamento de D’us foi que “quero que cresçam e se multipliquem”, mas se foram criados sem o desejo sexual, não iriam crescer e multiplicar, isso só foi possível quando a cobra fez o que fez.
A mesma coisa acontece no pecado do bezerro de ouro, quando o povo de Israel estava no monte de Sinai, estavam resgatando a energia do Éden, só que veio o pecado do bezerro de ouro e graças a ele o povo voltou a ter desejo e procriar. E graças a isso a Torah foi dada e estamos estudando essa cadeia de transmissão.
Então, é uma visão que nos faz refletir: tendemos a categorizar o mundo como bom e mal e não é assim que funciona, embora falemos de má inclinação, ela é necessária para a nossa vida (inclusive a procriação), não foi criada atoa, é do plano divino, D’us queria que multiplicássemos, tudo isso aconteceu sob supervisão divina; então, o Zôhar explica que mesmo o que vemos como mal, mais que demonizá-lo e eliminá-lo da nossa vida, temos que entendê-lo e usá-lo da maneira correta e aí, sim, isso tem um uso espiritual e Sagrado.
O mundo dos sonhos
O Zôhar entra na história de José, em especial quando está preso e começa a interpretar o sonho do copeiro do Faraó, que também está preso e sonha.
O Zôhar ensina algo sobre os sonhos, em especial, fala que temos sonhos fracionados e quando isso acontece, explica que geralmente a primeira parte vem como uma mensagem geral, e a segunda parte vem falar algo específico sobre o geral da primeira parte, então o sonho vai do maior pro menor, vai afunilando.
Outra coisa que o Zôhar explica é que sonhamos não para nós, como na história de José, muitas vezes nossos sonhos são compartilhados, porque sonhamos para que alguém perto da gente receba uma mensagem, uma notícia. Quando isso acontece não necessariamente é para sair falando para as pessoas, é preciso pensar. E como saber se diz ou não? Se o sonho for MUITO REPETITIVO, o que pode acontecer é que a pessoa deveria receber a mensagem, mas não está conseguindo e você está sendo usado como canal ou procure alguém espiritualizado para orientar (será uma pessoa sem ego e direcionará de uma maneira conforme os conhecimentos que tem).
Vinho
Como um cabalista bebe vinho?
O vinho pode ser também bom ou mal. Nesse sentido, o vinho é visto pelo Zôhar como uma força que representa a coluna da esquerda da Árvore da Vida, a de Guevurá, por isso quando se vai tomar vinho deve-se adicionar um pouquinho de água (que representa a coluna da direita) para simbolicamente retirar a energia de Guevurá do vinho, isso pode ser feito fisicamente ou simbolicamente (antigamente era uma prática comum na Grécia porque o vinho era muito grosso).
Isso representa que tudo na vida devemos pensar se estamos usando para nos conectarmos com a santidade ou com o outro lado, se vai nos conectar com o lado mais positivo ou com o lado mais negativo, mas em especial, devemos tomar cuidado com as coisas que já são da energia de Guevurá, ou seja, coisas que já são naturalmente da coluna da esquerda é mais fácil que nos conectem com o lado negativo (representadas pela cor vermelha, mas não só), essas coisas se não soubermos extrair o lado mais positivo dela, é mais fácil que nos desvie do caminho.
Então, adicionar a água significa não deixar a coluna da esquerda atuar livremente, é dar a direção que queremos para aqueles atos “como podemos direcionar nossos atos, mesmo aqueles que poderiam ser mais densos para nos levar ao caminho da luz?” O Zôhar não acredita muito em atos negativos. Todos os atos por mais grosseiros que sejam feitos, se tiverem finalidade de santidade, tá ótimo adicionar essa água, não devemos olhar muito a externalidade do ato, mas sim, com que rumo que o ato tá sendo empregado.