Morada de D'us

Aqui nessa Porção acontece algo que choca os cabalistas.
D’us aparece e começa a dar um monte de instruções minuciosas para o povo de Israel construir um tabernáculo, uma casa aonde D’us irá morar.
Mas por que isso é chocante para os cabalistas?
Porque na Porção anterior a esta, D’us fez questão de ser claro que Ele não é corpóreo. Lá nos primeiros mandamentos em que passa para Moisés no Monte Sinai, a Torah, D’us faz uma ênfase enorme neste aspecto: que não pode ser representado. Por isso, é um paradoxo Ele pedir para que construam uma casa para Ele como se fosse estive na condição de um ser humano.
Um dos maiores cabalistas que já existiu explica que os Israelitas, os Hebreus que estavam saindo do Egito e indo para a terra de Israel estavam passando por uma transição muito importante: a transição da escravidão para a liberdade.
Essa transição não ocorre somente no status social, no sentido de “ontem eu era escravo e agora sou livre”. Essa transição tem que acontecer do ponto de vista psicológico e social, e isso, por si só, exige uma mudança de mentalidade/de visão de mundo, que não é fácil.
Então, para que isso acontecesse foi parte do processo que D’us começasse a realizar vários milagres; a saída dos Hebreus do Egito é repleta de milagres: as dez pragas do Egito, o mar vermelho que se abriu, um maná que foi entregue para esse povo.. Mas também foi parte do processo, num segundo momento, em que 80% do objetivo havia sido atingido, D’us ficar bravo (devido a história do bezerro de ouro) e parar com os milagres nítidos.
D’us ficou um pouco bravo, porque o povo fez o bezerro de ouro e, a partir deste momento, explica o rabino, esse povo começa a viver uma realidade em que os milagres não são mais visuais, esse povo passa a não ver mais uma intervenção divina tão próxima.
O próprio pecado do bezerro de ouro acontece, porque o povo começa a perceber que, talvez, a figura de Moisés, que antes era tão próxima, não volta para eles.
Esse distanciamento da santidade começa, então, a se abater sobre o povo e esta transição se faz bastante perigosa. D’us percebe que esse povo precisa de algo que substitua o milagre, que até então era evidente na vida deles, Ele passa então a se relacionar com esse povo de uma maneira mais existencial. Daí a ideia de “eu quero que vocês construam uma casa onde eu vou habitar e vou ser como se eu fosse o vizinho de vocês. O povo vai passar por essa transição de uma forma que terão uma relação com o divino com a visão de algo da realidade mundana.”
Então, por mais que seja paradoxal a casa/corpóreo, os Israelitas precisavam disso para que o povo tivesse uma nova relação com a santidade.
Um fato curioso é que a Bíblia faz questão de ser detalhista sobre a descrição deste tabernáculo (tem mais páginas que na descrição da criação do mundo).
Mas assim é feito, devido sua importância. Esse tabernáculo representa a presença divina em nós, a sensação de D’us perto da gente e não esse D’us que transcende. Talvez a Bíblia está querendo nos mostrar que D’us está nos detalhes da vida material, do mundano. A gente não precisa esperar encontrar D’us nas coisas grandiosas e milagrosas.
D’us está na contemplação das pequenas coisas. Por que haviam nas construções decorações de vitrais extremamente elaborados e coloridos com várias cenas? Porque olhar para tais vitrais era uma maneira de encontrar D’us, assim como no nosso dia a dia, nos detalhes do mundano.
Essa é uma das facetas da divindade e os Israelitas estavam precisando dela neste momento de transição. Essa contemplação detalhista deve ser reverberada para dentro de nós. Esse tabernáculo depois vira o templo. E esse templo também habita em nós.
D’us, de fato, não é corpóreo, ele tem, sim, uma morada: essa morada está dentro de nós.,
Nascer do Sol

O Zôhar fala dos perigos que a noite traz e também comenta que essa energia começa a ser revertida a medida em que o dia começa a amanhecer; o Zôhar explica que a partir da meia noite já se começa a ter uma suavização da energia negativa, porque é literalmente o momento em que se começa a ter menos escuridão e mais luz, nota: aqui não necessariamente é a meia noite do relógio, é a meia noite astrofísica. Então, a partir da meia noite começa a ter essa reversão da energia negativa, o que já começa a ficar mais interessante para trabalhar com certas coisas. Há um costume cabalístico, inclusive, de acordar a meia noite para estudar os assuntos elevados que é para aproveitar o momento em que a luz está começando a se revelar no mundo.
O Zôhar também diz que as energias negativas não ficam totalmente eliminadas, o que acontece é que ficam “apagadas”, passam despercebidas, “é como uma luz de vela diante da luz do Sol que está aparecendo”.
Então, quando que a energia negativa fica apagada? Ao nascer do Sol. Nesse momento também é quando você começa a ver o disco solar surgir no horizonte, o Zôhar diz também que é um momento legal, tanto quanto a meia noite, para se fazer certas coisas sincronizadas da espiritualidade, como tentar fazer Orações exatamente no ponto mais alto da energia, ou fazer algum estudo, enfim. Meditações elevadas, etc.
Pássaros

Por que que os pássaros gostam de acordar cedo?
Claro que tem aves noturnas, mas no geral, os pássaros gostam de ver o sol raiando, como o galo.
E o Zôhar explica que esses passarinhos estão tentando se conectar com a energia do Criador que realmente está mais forte no período da manhã, a energia de Hokhmah. Essa sensibilidade desses pássaros faz com que isso seja um símbolo muito forte na espiritualidade para outras coisas que temos importância na Kabbalah. Por exemplo, temos várias alusões de que o Messias vem de Hokhmah, um ninho de um pássaro, na ideia de que tem a sensibilidade de um pássaro conexão com o eterno e que vem a se revelar no período da manhã. Fala-se também da chegada sob as asas de uma águia.
Portanto, acordar de manhã e poder ouvir o canto dos pássaros matinais faz realmente uma conexão com a luz que diretamente de Hokhmah.
3 pássaros simbólicos que pela manhã cantam louvores a D’us; um passa louvor para o outro, o primeiro passa para o segundo, o segundo passa para o terceiro. Esses três pássaros, na verdade, são as três sephitohs da Árvore da Vida: o da coluna da direito, o da coluna da esquerda e a da coluna do meio.
Esses louvores inspiraram os rabinos a começar o dia fazendo louvores para D’us. Se faz louvores geralmente com salmos: o salmo 119 (constituído por todas as letras do alfabeto hebraico). Cabalisticamente não precisa se preocupar apenas esse salmo ou pode fazer um louvor também na sua cabeça (no período quando o sol está nascendo até meio dia). O ato emula os três pássaros que o Zôhar está falando: ou seja, se conectando com as três sephiroths mecionadas, unindo as três colunas da Árvore da Vida e transferindo a luz de uma sephiroth para a outra, criando um sistema de harmonia e equilíbrio, portanto, estaria provendo uma espécie de Tikun (reparo cósmico do mundo e da alma).