Porção Semanal de Tazria – Metsorá – 16/04 a 22/04

Elogios

Porção Semanal de Tazria – Metsorá – 16/04 a 22/04

A Porção dessa semana fala muito sobre a Lashon Hará que é a má língua, algo muito falado pelos sábios, sobre o mau uso da nossa linguagem e que é um pecado causa a doença de Tsaarat, mencionada nesta Porção. Mas existe um conceito cabalístico que diz que sempre do negativo, é possível inferir o positivo: Lashon Hatov que é o bom uso da língua.

A maneira de evitar o Lashon Hará é praticar o silêncio, os sábios falam muito da importância do silêncio. O silêncio nos salva, mas ele por si só não constrói nada de positivo, ele é uma neutralidade. Uma das coisas mais bondosas que podemos fazer, segundo a Kabbalah, é elogiar alguém, porque além de ser algo bondoso essa pode ser a tarefa mais importante de um líder/pai/mãe/amigo.

Porém, essa prática de elogiar parece entrar em contradição com outro ensinamento que aparece em Erachin 16a, que diz que o elogio leva à crítica. O comentarista Rashi tenta defender duas explicações para essa afirmação: a primeira é que uma pessoa tendo feito elogios excessivos, vai tentar moderar suas palavras, no sentido de admitir que o que a pessoa que ele teceu elogios também tem falhas, é por isso que o elogio leva à crítica; a segunda é que as pessoas que estão ouvindo também vão apontar as falhas da pessoa, e é por isso que o elogio leva à crítica. O elogio é verdadeiro ou é exagerado? Esse deve ser o questionamento a ser feito. Já Rambam tem uma outra percepção, para ele, quem elogia o próximo na presença dos seus inimigos é culpado de uma forma secundária de Lashon Hará, porque isso provoca os inimigos a falar mal de quem é elogiado. Então, aqui, para Rambam, a questão não é sobre moderação de elogiar e, sim, sobre o contexto, porque dependendo do contexto, o elogio funcionará como provocação.

Existe um outro ensinamento que discute como deve fazer para elogiar a noiva no dia do casamento e os rabinos ensinaram que se deve cantar que a noiva é bonita, mesmo ela sendo feia.

Algo que poderia ser mentiroso ou não, porque a noiva pode ser feia, de fato, ou a noiva nunca será feia, porque aos olhos do noivo a noiva é linda, deixando a frase verdadeira.

Além disso, a frase faz mais que transmitir informações sobre a realidade, ela comove, transmite uma emoção. Saber usar a fala de uma maneira sensível, envolve uma inteligência emocional.

Então, é verdade o que é falado sobre a noiva? Ou é excessivo? E qual é o contexto que está sendo feito os elogios à noiva?

Esse debate sobre os elogios, chega em um debate de um dos ensinamentos mais importante “amarás a teu próximo como a ti mesmo”. O Rashi interpreta o mandamento como: não faça a seu próximo o que você não gostaria que ele fizesse pra você. O Rambam, no entanto, diz que o mandamento inclui a obrigação de você falar em seu louvor/elogiando o outro. O Rashi vê o louvor/elogio ao próximo como opcional para amar o outro, basta que eu não interaja eu já estou amando o outro, basta não fazer mal, é algo bem passivo. Já Rambam, diz que devo falar algo positivo sobre o outro, é um amor bem mais ativo, é preciso atuar para amar o outro.

Falando em ética, ter discípulos, é um ensinamento que nos é passado pelas escrituras, “crie muitos discípulos”, isso soa estranho na condição de médico/engenheiro/artesão, mas a interpretação é que os discípulos são criados na nossa vida por meio de elogios sinceros, porque isso inspira as pessoas a se tornarem o que elas poderiam se tornar, você ensina as pessoas a alcançar a plena medida do seu potencial e é isso que um verdadeiro professor faz. E é algo que pode ser feito em qualquer profissão, ou seja, em qualquer profissão é possível ser mestre. Esse é um dos ensinamentos mais importantes sobre ética pela ótica da Kabbalah.

Onde está a sua força particular? Qual o ponto forte de cada um? É assim que se cria verdadeiros líderes. E isso não é bajular! É apontar os talentos únicos das pessoas. Quando se consegue ser alguém assim, se consegue fazer algo extremamente positivo na vida de alguém! Rambam defende esta ideia.

Algo também explicado nos ensinamentos sobre ética, é que é importante também tecer elogios sobre dons adquiridos, conquistados, esses são mais importantes, porque ajuda a pessoa a não se acomodar, existe um ensinamento que defende a ideia de que “aquele que não aumenta seu conhecimento, perde”. O potencial de frutificação na vida da pessoa aumenta.

 

Por fim, elogios sempre mudam vidas, fazem com que nos tornemos mestres, que a gente crie discípulos, elogios faz com que as pessoas floresçam. 

Dualidade - Formação

O versículo fala que o homem foi formado por D’us e não criado por D’us.

E o Zôhar diz que a explicação disso é que a base da formação do homem é toda dual, nós somos compostos em todos os nossos aspectos de uma dualidade. A exemplo:

  • Somos compostos de corpo e alma (gênesis 2.7 “D’us formou o nosso corpo e soprou na nossa narina a nossa alma);
  • Somos compostos de gênero masculino e feminino (narrado como Adão e Eva);
  • Somos formados de um instinto bom e um instinto mau.

 

Existe uma dualidade em nós e isso é importante a gente saber para que essa dualidade seja trabalhada, integrada e unificada com o intuito de criar em nós uma completude. 

Precisamos fazer esses dois lados conversarem, se darem bem, é preciso essa dinâmica na nossa vida, pra podermos ter o livre arbítrio de pensar dos dois modos, conseguir ponderar as coisas e fazer com que esses dois modos se harmonizem no caminho do meio fazendo com que a nossa vida chegue numa completude pacífica.

Alma Muda

Tendemos a imaginar que nossa alma fala livremente, assim como falamos com a nossa boca física, mas não é bem assim que as coisas funcionam.

Na verdade, a fala é uma característica de quando estamos vivos, ao morrermos, o estado natural da alma é o silêncio. Nós, falamos porque temos um corpo físico com todo um “aparato” vocal. A alma pode se comunicar por forma telepática, mas não a fala propriamente dito.

O nível que costuma falar, é o nível mais baixo da alma, mais fácil das pessoas terem e que mais se mistura no nosso corpo.

A Kabbalah ensina que quando a gente dorme, a nossa alma sobe, vai aos céus e relata tudo o que a gente fez durante o dia verbalmente para D’us, o Zôhar explica que para isso acontecer ela não pode ir no nível mais baixo da alma (temos 5 níveis de alma), então alma pode pegar um nível de alma mais elevado (o ligado a Binah, por exemplo) para fazer este relato a D’us, mas ela por si só não fala; porém como é, na verdade, uma alma em um nível mais baixo apenas revertida de uma alma mais elevada, ela se comunica.

Agora, se o nível mais baixo da alma está cheio de energia na fala, ela mesmo revestida de uma energia mais elevada, não consegue ficar na presença de D’us para se comunicar.

Uma fala carregada de energia negativa afeta o nosso nível espiritual e, este, por sua vez, o nosso corpo.

Então, é por isso que uma das práticas recomendadas pela Kabbalah é cultivar o silêncio, porque ele é a linguagem da alma, quando se pratica momentos de silêncio você se conecta com a sua alma e pode se conectar com qualquer um dos 5 níveis de alma que tenha.

Aqui falamos de um jejum de fala, mas todos os tipos de jejum são bons para alma, porque é no sentido de que é um momento de limpeza da alma do mundo físico.


Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *